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VI Simpósio Antigos e Modernos - UFPR: "Amor e Guerra"

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Resumos (palestrantes e conferencistas):

3ª-FEIRA (04/12)

Prof. Dr. Jacyntho Lins Brandão (Faculdade de Letras/UFMG)

A teia de Hefesto


O entrecho cantado por Demódoco no canto VIII da Odisséia relativo aos amores entre Ares e Afrodite pode ser justamente tomado como uma manifestação prototípica do entrelaçamento da temática da guerra e do amor, entendidos ambos como aspectos da experiência humana que, por sua singularidade, merecem ser narrados. Todavia, observa-se que, tanto o amor quanto a guerra sendo por si dignos de serem tomados como objetos de discurso, sua relação não se impõe de antemão, mas depende da teia que, como a de Hefesto, os ata para exibição pública. Meu objetivo neste trabalho será o de tipificar algumas formas assumidas por essa teia em diferentes gêneros e tradições antigas, a fim de observar como, do ponto de vista da construção dos discursos, o amor pode dar sentido à guerra e vice-versa, ou, noutros termos, como tanto uma quanto o outro são transportados, por obra desse “terceiro” representado pela figura de Hefesto, de sua dimensão meramente factual para a das coisas dignas de serem narradas.

Prof. Dr. Luiz Geraldo Silva (DEHIS/UFPR/CNPq)

Nascimento e ocaso do conceito de guerra brasílica: séculos XVII e XVIII

Entre os séculos XV e XVI criou-se no âmbito do império português uma hierarquia de espaços de guerra, a qual era aplicada a suas diversas dimensões territoriais existentes na África, Ásia e América. Tal hierarquia era construída a partir de distintas fontes. Em primeiro lugar, ela se alimentava de comparações elaboradas mediante narrativas acerca de agentes, ecologias e meios de combate existentes nos diversos espaços coloniais. Em segundo lugar, ela se baseava na leitura de tratados antigos e modernos, estes últimos em geral não portugueses, os quais versavam sobre a evolução da arte da guerra na Europa a partir do século XVI. No século XVII, superando quadro anterior, surge na literatura luso-americana o conceito de guerra brasílica, o qual remete a uma transação entre o disposto nos tratados europeus sobre a arte da guerra e agentes, ecologia e meios de combate da América. Nascido nas campanhas contra holandeses na Bahia e em Pernambuco (1624-1654), o conceito em questão sofre seu ocaso entre fins do século XVII e inícios do século seguinte, à medida que sua prática substituiu inimigos externos por internos, mormente quilombolas e índios tapuias, e que as tropas brasileiras ingressam num processo de institucionalização que acenava tanto para necessidades relativas à guerra como de manutenção da ordem interna.

Prof.ª Dr.ª Edna da Silva Polese (Santa Cruz /Uniandrade)

A construção do líder messiânico: os monges da Guerra do Contestado

A partir da concepção de Auerbach sobre Figura, interpreta-se a construção do líder messiânico – mistura de líder político e religioso – no contexto da Guerra do Contestado (1912-1916). O fenômeno messiânico, recorrente na história do Brasil, provocou o imaginário da escrita ficcional, direcionando o olhar do leitor ora para a rememoração do acontecimento histórico, ora para a desconstrução. A figura do líder é resultado da fé coletiva, oriunda das comunidades que formataram esse tipo de aglomeração. É a partir desse olhar, do crente, que a figura do líder se constrói.

Prof.ª Dr.ª Renata Senna Garraffoni (DEHIS/UFPR)

Exército e guerra no mundo antigo: novas abordagens sobre cultura militar romana

Por que estudar o exército romano na atualidade? Esta questão provocativa é o ponto de partida da presente reflexão. Por se tratar de uma cultura altamente militarizada, os estudos sobre o mundo romano, desde o século XIX, buscam entender o exército romano das mais distintas perspectivas. Se durante o século XIX estudou-se o exército considerando-o como fonte de poder e domínio, hoje, o enfoque sobre violência e conflitos nos ajuda a pensar o mundo romano na sua diversidade étnica, de gênero e posição social. Procurarei explorar nessa comunicação tais diferenças teórico-metodológicas e suas implicações na modernidade.

Prof. Dr. José Geraldo Costa Grillo (UNIFESP)

Helena entre Páris e Menelau: histórias de amor, guerra e violência na pintura da cerâmica ática

Este minicurso aborda a iconografia de Helena na pintura da cerâmica ática, consagrando-se a duas cenas, o Rapto de Helena por Páris, motivo da deflagração da Guerra de Tróia, e o Regate de Helena por Menelau, no final da guerra.O objetivo é mostrar que as histórias de Helena se desenvolvem entre o amor e a violência nessa guerra. Serão três módulos, com estudos sobre a tradição literária e as iconografias do rapto e do resgate.

4ª-FEIRA (05/12)

Prof. Dr. Vidal Antonio de Azevedo Costa (Fundação Cultural de Curitiba)

A temporalidade moderna na guerra: uma análise da visão sado-masoquista de Gilles Deleuze

A dimensão moderna do tempo pode ser vista por inúmeros ângulos, entre estes propomos cruzar a percepção de Gilles Deleuze para o tempo tal como se apresenta em Sade e Masoch e a forma como este é construído no âmbito da guerra, um tempo que é dominado pelo mesmo binômio que rege o sado-masoquismo: a embriaguez da ação que se confronta com o êxtase da espera, em uma soma que anula a ambos. Essa reflexão busca a mesquinha face humana, o agente que se oculta sob a reluzente aparência das máquinas de guerra, com os valores simbólicos nelas impregnados - um confronto que usa do olhar de Deleuze, revelador da mecânica de tempo inerente aos prazeres sádicos ou masoquistas, para entender a lógica temporal de um século marcado por conflitos que pode ter começado muito antes da Grande Guerra de 1914 e que talvez se estenda para bem além da chamada Guerra ao Terror.

Prof. Dr. Benito Martinez Rodriguez (DLLCV/UFPR)

Scherzi-rajadas líricas: balas e baladas na dicção poética de Marcelo Ariel

Os trabalhos de Marcelo Ariel (1968), poeta nascido em Santos mas radicado desde a primeira infância em Cubatão, constituem-se em material rico para uma problematização de questões relacionadas ao fenômeno difuso e heteróclito de certa produção literária recente, designada por parcela dos agentes de mercado, da crítica e, em certos casos, pelos próprios autores, como literatura marginal. O problema da representação, pensada tanto em termos de construção de linguagem quanto no plano da inscrição da voz do artista num cenário histórico-social, encontra nos escritos desse poeta de trajetória excêntrica ao circuito letrado tradicional formas de elaboração que destoam do neo-naturalismo mais ou menos dominante entre seus pares, sem contudo perder de vista uma tensa relação entre o projeto poético e as circunstâncias de sua produção. Serão abordados aspectos presentes nos escritos dos três primeiros livros publicados pelo autor, Me enterrem com a minha AR-15 (2007), Tratado dos anjos afogados (2008) e Conversas com Emily Dickinson... e outros poemas (2010).

Prof. Dr. Rodrigo Tadeu Gonçalves (DLLCV/UFPR)

Com o menor e mais inaparente dos corpos: amor, guerra, logos em Górgias e Plauto

O sofista Górgias de Leontino propõe, no seu Elogio de Helena, um logos-paignion de modelo epidítico que funciona, basicamente, como um discurso meta-performativo. Ao mesmo tempo em que propõe virtuosisticamente que Helena não pode ser considerada culpada pelos males da Guerra de Troia, livrando-a de quatro acusações diferentes (o destino, a violência de Páris, o Amor ou o logos), Górgias eleva o discurso ao estatuto de “grande soberano, que, com o menor e mais inaparente dos corpos, realiza os atos mais divinos” (Enc. Hel. 8). A análise sofística de Górgias imputa a culpa da sedução não ao sedutor, mas ao próprio discurso, pharmakon, remédio e veneno ao mesmo tempo. Tendo feito Helena passar do estado pior ao melhor via seu próprio discurso, autoconsciente de seu poder performativo, Górgias minimiza a culpa da mulher pela guerra, e salienta os poderes divinos terríveis do logos. Nesta análise, mostrarei paralelos importantes entre o discurso sofístico metaperformativo de Górgias e o de Mercúrio e de Júpiter no Anfitrião de Plauto, em que se discute em termos quase-sofísticos o poder fundamental do logos para o desenvolvimento de outra história de amor e guerra, o mito do nascimento de Hércules transformado em (tragi)comédia.

Prof. Ms. Guilherme Gontijo Flores (DLLCV/UFPR)

Bertran de Born e o Amor à Guerra

Uma das figuras mais lendárias e controversas da poesia trovadoresca provençal foi Bertran de Born (?1140 – ?1215), por ter feito, dentro do gênero tipicamente amoroso (ou pelo menos nas suas relações entre forma e tema), um grande louvor amoroso à própria guerra. Neste contexto, a guerra deixa de ser um oposto (ou um oposto complementar) ao amor, como é comumente retratada desde a Antiguidade, para ser ela própria o objeto de amor poético. O intuito deste estudo é tentar compreender de que maneira esse amor à guerra se manifesta na linguagem do poeta, que ainda permanece pouco estudado em língua portuguesa, sobretudo no Brasil.

Prof. Dr. Roosevelt Rocha (DLLCV/UFPR)

Afrodite, Eros e a Guerra

Nesta comunicação, pretendo analisar alguns textos nos quais a deusa Afrodite e/ou o deus Eros aparecem associados, de alguma maneira, à guerra. Analisarei o trecho da Ilíada (5, 297-417) onde Afrodite tenta proteger seu filho Eneias. Nessa cena, Homero mostra como a deusa é inepta para os combates. Porém, no fragmento número 1 de Safo, a deusa Afrodite é convocada para ser a ‘aliada’ na campanha de conquista da amada desejada pela persona poética. Em outras passagens, de Hesíodo, Arquíloco e Safo, Eros é caracterizado como ‘soltamembros’, pois retira as forças dos braços e das pernas daqueles que estão sob seu poder. Desse modo, pretendo mostrar que a deusa Afrodite e o deus Eros têm um caráter ambíguo, habitualmente sendo associados ao amor e aos prazeres, porém eles também podem se tornar violentos contra aqueles que se negam a submeter-se ao seu poder.

Prof. Dr. Caetano Waldrigues Galindo (DLLCV/UFPR)

A guerra contra o Finnegans Wake

O discurso sobre a guerra toca frequentemente na barreira no inefável. A barbárie nos faz pensar inclusive nos limites da expressão literária. Desde que Theodor Adorno declarou que não havia mais poesia depois de Auschwitz, nos vimos constrangidos a pensar se a experiência narrativa/lírica pode de fato abarcar o horror, e se pode ser subsumida por ele. Em sua obra mais radical, Finnegans Wake, James Joyce não se furtou a tratar do tema da guerra. O que este trabalho pretende é demonstrar que o discurso-indiscursável do Wake é efetivamente uma maneira eficaz de dizer mais este indizível.

5ª-FEIRA (06/12)

Prof. Dr. Ronaldo Vainfas (UFF/CNPq)

Prudência, paixão e política: Antônio Vieira e a Restauração portuguesa

Reflexões sobre a atuação de Antônio Vieira no processo de restauração portuguesa à luz do pensamento de Maquiavel, em A arte da guerra (1520), e de alguns aforismos de Baltazar Gracián, jesuíta como Vieira, autor de A arte da prudência, publicada em 1647.

Prof. Dr. Pedro Ipiranga Júnior (DLLCV/UFPR)

Cenas de amor e guerra na Ciropedia: concepções de gênero

Na Ciropedia, o programa biográfico esboçado por Xenofonte contempla uma agenda pedagógica segundo a qual o jovem Ciro é preparado desde cedo para se tornar um guerreiro excelente e o soberano ideal. O intuito deste trabalho é discutir as questões de gênero que a obra tem suscitado até hoje, enfocando, por um lado, as esferas correlatas da caça e da guerra, como a dimensão em que os valores guerreiros são vinculados à imagem do modelo proposto de cidadão e governante, por outro lado, considerando a inserção do elemento do páthos erotikón como aquilo que testa a prudência e a atitude imparcial de Ciro, enquanto soberano que não se deixa dominar pelas paixões.

Prof. Dr. Bernardo Brandão (DLLCV/UFPR)

A Ascensão Filosófica como Amor e como Disputa. Questões de Gênero e Discurso

A presente comunicação pretende analisar a noção plotiniana da ascensão filosófica da alma na Enéada I, 6 a partir de seu uso das imagens do amor e da disputa. Por um lado, a partir de suas leituras do Banquete, Plotino considera que a ascensão só é possível se impulsionada pelo amor que, parecendo se dirigir ao mundo sensível, se realiza plenamente na contemplação do inteligível e do Bem. Por outro lado, essa ascensão não é um empreendimento fácil, mas fadiga (pónos) e disputa (agón), a maior de todas. Podemos pensar, portanto, que em Plotino, o amor é como que o fundamento para a grande disputa que, para a alma, constitui a ascensão. Essas duas noções, portanto, aparecem interligadas, constituindo uma base para compreender a proposta anagógica de Plotino na Enéada I, 6.

Prof. Dr.Brunno V. G. Vieira (UNESP)

Amantes são soldados: como verter o multiversátil Ovídio?

O texto latino da elegia 1.9 dos Amores será tomado para ilustrar algo da técnica ovidiana nesse gênero. A dualidade entre amor e guerra é trabalhada à dupla potência nos dísticos, espelhando-se em oxímoros, ecos, comparações, paralelismos fono-sintáticos e outros redobros mais. Se a recusatio do canto épico é um tímido lugar-comum elegíaco, o trabalho poético empreendido ali por Ovídio declara à plena voz o que quer e o que pode esse gênero: ingenii est experientis amor (1.9.32). Esta fala trata da desafiante tarefa de replicar em português tantos duplos.

6ª-FEIRA (07/12)

Prof. Dr. Anderson de Araujo Martins Esteves (PPGLC-UFRJ)

O Nero de Tácito: vícios de amor e guerra

Na última hêxada dos Annales, Tácito se esforça por apresentar o imperador Nero como o avesso das virtudes principescas, encarnadas no clipeus uirtutis (escudo da virtude) de Augusto. Sua conduta imoderada e sua política externa pacifista são a negação da antiga uirtus romana, que representa, a um tempo, a capacidade de autocontrole e a coragem militar. Neste trabalho, procuro estudar como Tácito articula o discurso sobre o comportamento sexual de Nero com a análise sobre a política externa, de maneira a reforçar a negação da uirtus no retrato do imperador. 

Prof. Dr. Flávio Vilas-Bôas Trovão (UNINOVE-SP)

Novos Soldados Para Novos Conflitos: Cinema e Guerra no Governo Reagan (1980-1983)

A guerra do Vietnã (1965-1975) foi a primeira televisionada em tempo real nos Estados Unidos e os noticiários levavam para os lares americanos imagens dos horrores dos conflitos em pleno horário do jantar. O cinema não deixou de retratar essa realidade e, em um primeiro movimento, o que se viu foram filmes que contestavam, de certa forma, a presença norte-americana naquela guerra como em Taxi Driver (1976) dirigido por Martin Scorsese, Apocalypse Now (1979) dirigido por Francis Ford Coppola, MASH (1970) de Robert Altman que, apesar de ambientado na Guerra da Coréia, foi recebido e entendido como uma crítica bem humorada ao conflito que se estendia no sudeste asiático. O documentário de Peter Davis “Corações e Mentes” (1974) é um marco às críticas e às ações beligerantes do governo americano nas operações em questão. Em todos esses filmes, a imagem retratada do soldado é de homens atormentados, seja pela insanidade e violência das ações bélicas em que se viam diretamente envolvidos, seja pela falta de objetivos do país na guerra. Apesar dessas críticas, os filmes de maior bilheteria na década foram aqueles que se utilizaram de grandes efeitos especiais, o chamado “cinema de espetacularidade” como Tubarão (1975) e a saga “Star Wars” (1977 e 1979). Com a ascensão de Ronald Reagan à Casa Branca o que se viu foi uma mudança substancial no retrato do soldado em batalha no Vietnã. Do conflito psicológico e da crítica ao envolvimento do país, surge a figura do “herói que salva o dia”, como em Rambo e Bradock. Essas personagens incorporam a nova política americana para o mundo: agressiva, belicista e ufanista. A presença de um ex-ator de Hollywood no alto comando do país, no caso Reagan, e a retomada do tema do Vietnã nos cinemas, sob nova ótica, a do homem que se torna uma máquina de guerra, parecem representar um novo soldado para um novo modelo de guerra. Não mais a guerra física travada nas selvas vietnamitas, mas sim, uma guerra social e econômica que emerge dentro do próprio país contra as minorias, sejam elas étnicas, sexuais ou sociais e, do ponto de vista econômico, contra o chamado estado de bem estar social. Nesse sentido, as sociabilidades e direitos civis conquistados ao longo das décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos passam a ser alvo de duras críticas e ações do governo conservador liderado por Ronald Reagan, bem como, no cinema, os filmes e diretores de maior crítica perdem espaço para aqueles cada vez mais “espetaculares” e de maiores efeitos voltados para o grande público e seu mero entretenimento.

Prof.ª Dr.ª Lígia Negri (DLLCV/UFPR)

Vim, Vi e Venci!  ou Vi, me apaixonei e capitulei!

É muito rica para a produção artístico-literária a trama da disputa antagônica entre o par de protagonistas, movidos inicialmente por uma aversão mútua que, fica evidente, nada mais é do que a expressão do interesse amoroso. Nesse esquema, entre as vicissitudes pelas quais o amor verdadeiro deve passar está a aparente incompatibilidade entre os futuros amantes. Esse fio condutor já rendeu inúmeros enredos narrativos, o mais famoso deles e matriz de um sem número de outros é A Megera Domada de William Shakespeare. Essa obra talvez seja a que focalizou mais radicalmente o amor como guerra, como disputa, como um conjunto de estratégias táticas de sedução e submissão do parceiro.   A semântica cognitiva, na perspectiva de Lakoff e Johnson, aponta o papel fundamental da metáfora na apreensão dos conceitos mais abstratos, assim o amor pode ser concebido de diferentes maneiras: como viagem, como meio físico, como guerra. É desta última que irei me ocupar, buscando verificar a produtividade da utilização dessa metáfora em diferentes produções narrativas, sejam elas originais, sejam interdiscursos.

Prof. Dr. Antônio Duarte Távora (DEP. LETRAS VERNÁCULAS/UFC)

“Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”: o amor e a guerra cantados pela MPB nos anos de Chumbo

Em que medida os mídiuns tecnológicos são neutros em relação à produção de sentidos que pode por eles ser atualizada? Para responder a esse questionamento, o presente trabalho se dedica a analisar a intersecção do gênero canção atualizado em diferentes mídiuns com a temática do amor e da guerra. O que parece ser apenas meio para atualização do gênero canção se mostra produtivo para a mobilização de sentidos pertinentes aos efeitos que se deseja produzir para se falar de amor e de guerra, de como se inter-relacionam no conturbado período  da ditadura militar que se inicia nos anos 60.

Prof. Dr. Gabriele Cornelli (UnB)

Sobre amor e guerra: Alcebíades e Sócrates no Simpósio

A figura de Alcebíades atravessa a narrativa do Simpósio de Platão com sua força dramática e histórica, desenhando para o diálogo um lugar central nas estratégias platônicas comprometidas com a revisão histórica dos anos-de-chumbo das stáseis do final do século V. O sentido da incursão dramática de Alcebíades será procurado na ambígua relação dele com Sócrate e será lido à luz dos testemunhos de Xenofontes, Tucídides, Ândrocles e Andócides, entre outros, em busca da compreensão da lectio platônica da trajetória de duas das personagens mais marcantes da Atenas clássica. 
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Resumos dos discentes:

3ª-FEIRA (04/12)

Marina Chiara Legroski (Doutoranda em Letras/UFPR)

No amor e na guerra vale tudo: ditados populares, provérbios e metáforas conceituais sobre amor e guerra

Lakoff e Johnson (1980) apresentam uma ideia inovadora no tratamento das metáforas: trata-se da noção da metáfora conceitual, que relaciona aspectos concretos de determinadas experiências com aspectos de conceitos abstratos e é deflagrada, entre outras instâncias, pela língua. Para esses autores, então, estabelecemos relações linguisticamente entre coisas concretas como dinheiro, por exemplo, com o tempo, que só podemos experienciar abstratamente. Nesse âmbito, uma das relações possíveis de ser feita é entre o amor e um deslocamento no espaço (“amor é uma viagem”, por exemplo, percebido em sentenças como “este é o fim do caminho para nós” ou “nos encontramos em uma encruzilhada”). Por outro lado, encontramos também metáforas que relacionam o amor à guerra, tanto em sentenças corriqueiras como em alguns provérbios ou ditados populares. É isto que este trabalho pretende mostrar: como a língua estabelece relações entre o amor e a guerra e como isso reflete algumas das percepções que temos a respeito do assunto.

Pérola de Paula Sanfelice (Doutoranda PGHIS / UFPR)

Beleza feminina e violência masculina nas pinturas de Pompeia

O amor entre Marte e Vênus esteve registrado sob diversas maneiras durante a Antiguidade, servindo como metáfora para abarcar os sentimentos humanos: ódio e paixão, fúria e ternura, guerra e amor. Representações desta narrativa são encontradas em diversos suportes como inscrições parietais, esculturas, pinturas, distribuídas por todo o território que compreendia o antigo Império romano. Dentre todas estas reminiscências destacamos as pinturas de Pompeia, as quais foram preservadas devido ao incidente ocorrido com a cidade no ano de 79 d.C., quando foi soterrada pelas cinzas e lavas da erupção do vulcão Vesúvio. Selecionamos para esta ocasião pinturas das duas divindades, com a finalidade de debater alguns aspectos simbólicos presentes na iconografia antiga que possuem repercussões até os dias atuais, sobretudo, no que tange a história do corpo, e as marcas de gênero inscritas nestas representações: a beleza como uma atribuição à identidade feminina e a violência como uma das grandes qualidades da identidade masculina.

Vinicius Ferreira Barth (Mestrando em Letras/UFPR)

Reflexões sobre as representações do Amor no episódio de Lemnos da Argonáutica de Apolônio de Rodes

A intenção deste trabalho, partindo da perspectiva de que o escopo principal da Argonáutica relativo ao enredo e às peripécias do herói está concentrado em torno do páthos amoroso, é averiguar em que medida esta obra pode ser considerada uma épica num sentido convencional. Embora o episódio de Medeia, no canto III, seja tradicionalmente visto como o centro amorosoda épica, o foco da análise será o canto I, em que se encontra o episódio da ilha de Lemnos. Lá, Jasão tem seu primeiro compromisso diplomático com uma cultura ‘outra’, e tal encontro consiste em sucessões de cenas que concentram grande carga de temática erótica. Hipsípile, soberana da ilha, é intimamente ligada a figuras femininas da tradição homérica, e por meio de sua relação com Jasão poderemos traçar uma linha de raciocínio tanto a identificar a importância central do páthos amoroso no desenrolar desse episódio quanto a afirmar Jasão como um herói que, diferentemente dos paradigmas homéricos relacionados à qualidade guerreira e à astúcia, encontra-se em um plano de figuração quase que exclusivamente erótica.

Geisa Mueller (Mestranda em Letras/UFPR)

O chilrear de Riobaldo e a arma branca de Diadorim

Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, é uma obra em que o amor e a guerra entretecem o campo do interdito. Pois, ao narrar suas memórias de jagunço, o narrador reserva o homoerotismo que permeia sua relação com Diadorim, segredo bem guardado que será posto a nu após a batalha final entre as facções de Riobaldo e Hermógenes. Tendo em vista a imbricação entre a guerra iminente e o amor que desponta entre Diadorim e Riobaldo, o objetivo deste trabalho é investigar de que forma o foco narrativo, ao figurar as relações de poder entre bandos de foras da lei, estabelece paralelamente outra linha narrativa, que aponta a realidade social brasileira enquanto continuidade da brutalidade legada pela ordem patriarcal.

Fernando Bagiotto Botton (Mestrando PGHIS/UFPR/Bolsista CNPq)

Vargas, Perón, Corações e Sorrisos: Amor e Paternalismo na Política Sul-americana

A experiência política moderna do Brasil e da Argentina contou com a presença de dois chefes de estado que se consagraram [foram consagrados] como os mais influentes políticos da história de ambas as nações. Hipérboles à parte, é inegável a influência econômica, política e discursiva desses dois presidentes/ditadores considerados os grandes “pais da nação”. A discursividade de ambos foi baseada em um argumento que repousa no engrandecimento da figura pessoal do presidente e sua anexação direta à própria ideia de nação, unindo e amarrando as esferas públicas e privadas em torno de um pleno exercício de “governamentalidade”. Para sustentar esse “dispositivo” político e discursivo tanto Vargas quanto Perón tiveram que se utilizar não apenas de seus ideários “racionalistas” de poder, mas antes de tudo de um argumento sentimental, que apelou para a sedução pela emoção e pelo amor do pai da grande família/nação. Assim surgiu nas propagandas políticas e nos discursos de ambos os estadistas palavras praticamente inéditas na política argentina e brasileira, termos como “amor, coração, carinho e sorriso” passaram a povoar no meio das prensas nacionais encarregadas de construir a figura política de seu líder enquanto o modelo de bondade e afeto ao povo. Dessa maneira, pretendemos estudar algum desses argumentos que, à primeira vista, destoam da política tradicional – considerada racional, séria e calculista – em função de uma construção discursiva que põe os sentimentos e as paixões do “homem da nação” enquanto argumentos de eficácia e sedução na esfera política/estatal.

4ª-FEIRA (05/12)

Camilla Miranda Martins (Mestranda PGHIS/UFPR/CAPES)

A imagem de Atena Promachos nas competições panatenaicas, uma leitura

Pensar sobre a guerra na Grécia antiga inclui, também, refletir acerca da presença dos deuses nela, personagens recorrentes tanto na literatura como nos vasos da época. Nesse sentido, podemos sinalizar a existência de uma relação entre o humano e o divino na guerra. As ânforas panatenaicas, por exemplo, sempre trazem a imagem de Atena Promachos, a deusa guerreira, em conjunto com a de homens competindo. O caso específico dessa cerâmica nos mostra como certo ideal guerreiro, evidenciado na pintura da deusa, está presente no momento da competição. Assim, podemos analisar uma relação entre o humano e o divino no contexto dos agones, remetendo-nos à ideia do guerreiro ideal. Portanto, nossa comunicação terá como objetivo central explorar o significado da imagem de Atena Promachos junto com a de atletas competindo.

Mateus Henriques Buffone (Mestrando PGHIS / UFPR)

Amor e Guerra Entre Anfitrião e Alcumena na Comédia Amphitruo de Plauto

A peça Amphitruo é uma obra do período intermediário de Plauto, datada aproximadamente do ano de 188 a.C. Sua trama é construída ao redor de um dos mitos existentes sobre o nascimento de Hércules que pode ser encontrado, em suas diferentes versões, em autores como Hesíodo, Apolodoro, Pausânias, Diodoro Siculo, entre outros. No mito, amplamente trágico, Alcumena, filha de Electrião, Rei de Micenas, se recusa a casar-se com Anfitrião, um general tebano filho de Alceu, o Rei de Tirinto, enquanto ele não vingar a morte dos irmãos de sua prometida. Na ausência de Anfitrião, em sua busca para cumprir a promessa feita, Zeus visita Alcumena disfarçado de Anfitrião e a engravida. Esta acaba dando à luz a “gêmeos”: Ificles, filho de Anfitrião e Hercules, filho de Zeus. Na versão de Plauto a história toma como foco a volta de Anfitrião e seu escravo Sósia de sua campanha contra os Teléboas e no jogo de duplos que transcorre quando o general e o escravo são defrontados pelos deuses Júpiter e Mercúrio que tomaram suas aparências e identidades com o intuito de que o deus dos deuses conseguisse sanar suas paixões pela esposa de Anfitrião. Nosso objetivo é analisar como Plauto constrói as personagens Anfitrião e Alcumena e elabora sua relação de “amor e guerra” através de uma mescla de gêneros, contribuindo para a ampliação do efeito cômico da trama.

Daniel Verginelli Galantin (Mestrando PGFILOS/UFPR)

A transformação da concepção de poder em Michel Foucault entre os anos de 1970 e 1971

Nesta comunicação será apresentada uma transformação, num curto espaço de tempo, da concepção de poder nos trabalhos de Michel Foucault. Em sua aula inaugural no Collège de France Foucault aponta a existência, em todas as sociedades, de instâncias de controle dos discursos, as quais podem atuar do exterior ou interior de tais discursos. Destacaremos apenas os métodos de exclusão e de rarefação dos sujeitos falantes, com suas respectivas subdivisões, instâncias exteriores ao discurso. Dentro dos procedimentos de rarefação dos sujeitos falantes, daremos maior atenção à interrogação sobre a vontade de verdade enquanto deslocamento com relação à questão sobre o ser da verdade ou sobre os métodos necessários para alcançá-la. Ao final da primeira parte da apresentação, será destacado como os mecanismos de regulação discursiva presentes em A ordem do Discurso apresentam um caráter marcadamente repressivo. Na segunda parte da apresentação mostramos como, apenas um ano depois, em 1971, com o artigo Nietzsche, a genealogia e a história, Foucault desenvolve uma concepção de poder que é marcadamente positiva, ou seja, o poder é concebido enquanto capaz de criar realidade. Segundo nossa hipótese, esta concepção de poder aparece especificamente na articulação entre corpo e história, assim como na investigação do sentido da palavra Entstehung (“emergência”) nos escritos de Nietzsche. Ao final da apresentação ainda procuraremos destacar as implicações políticas desta concepção de poder, a qual é concebida precisamente a partir da figura da guerra, numa inversão de um aforismo de Clausewitz: a política é a guerra continuada por outros meios.

Gregory da Silva Balthazar (Mestrando PGHIS / UFPR)

Amor e Sexualidade Na Literatura Egípcia do Reino Novo (c. 1550-1070 a.C.)

A crença egípcia no pós-vida tornou-se o principal objeto de preocupação da egiptologia; tal fato ocorre, em especial, pelo pouco acesso que os estudiosos tem de traços da vida cotidiana dos antigos egípcios. Contudo, durante o Reino Novo, foram produzidos textos que evidenciam o olhar egípcio acerca do amor e da sexualidade, os chamados Poemas de Amor. Por meio do estudo desse gênero literário, objetiva-se, com a presente comunicação, realizar algumas considerações acerca das relações amorosas entre homens e mulheres no antigo Egito.

Leonardo Teixeira de Oliveira (Graduando em Letras/Iniciação Científica/UFPR)

A violência de Eros na poesia de Anacreonte

A poesia lírica do período grego arcaico frequentemente expressa uma visão da experiência amorosa e do desejo erótico como uma força potencialmente destrutiva, em que Eros – personificado ou tratado como entidade abstrata – desempenha um poder subjugador, por vezes mesmo patológico, sobre os que sofrem por amor. Entre a poesia amorosa de Anacreonte de Téos (582 – 485 a.C.) muitos versos seguem esta expressão de um amor temerário, que o poeta delineia com um vocabulário específico, às vezes combativo e emprestado da tradição homérica guerreira, para descrever a veemência do amor como força capaz de dominar o corpo e a mente do amante. Nesta comunicação serão examinados alguns dos fragmentos de Anacreonte que retratam a violência de Eros, comparando seu efeito à loucura (maníai) e ao clangor de batalhas (kudoimoí), ao golpe do ferreiro (ékopsen . . . pelékei) (cf. Od. 9.387-94) e à luta (pyktalízō), ou a situações de algoz-vítima como um domador (damálēs) ou como aquele que dissolve as forças do corpo (takerós).

5ª-FEIRA (06/12)

Raphael Pappa Lautenschlager (Graduando em Letras/Iniciação Científica/UFPR)

A Guerra e o amor em Os Acarnenses, de Aristófanes

Com o presente trabalho, pretende-se apresentar, analisar e discutir de que maneira se forma a concepção da guerra dentro do texto da comédia Os Acarnenses, de Aristófanes. Além disso, busca-se analisar como tal conceito de guerra é contraposto, por Aristófanes, à noção de amor dentro do corpo da peça, sobretudo na oposição entre as personagens Diceiópolis e Lâmaco, e verificar, por fim, se existe um plano dramatúrgico tanto acerca das escolhas utilizadas pelo comediógrafo para estabelecer essa oposição, quanto do resultado obtido.

Emerson Robson Aparecido Silva (Graduando/Iniciação Científica DEHIS/UFPR)

“Não há homem e mulher”? Identidade e gênero no Evangelho de Paulo de Tarso

Atribui-se a Paulo de Tarso, um judeu com cidadania romana convertido ao proto cristianismo, a autoria da maior parte do Novo Testamento. Seus textos assumiram destaque pelo uso normativo que deles foi feito nas questões do papel da mulher na religião cristã. O Corpus Paulino foi considerado preconizador da exclusão das mulheres de atividades eclesiásticas e legitimador de sua sujeição aos maridos, o que o torna um documento importante para o estudo das relações de gênero. A presente pesquisa analisa esses textos em busca de representações femininas, procurando delinear as identidades ali expressas. Com uma metodologia interdisciplinar – que buscou o diálogo entre história, teologia e estudos de gênero –, foi feito o levantamento das passagens que faziam referência à relação entre os sexos. As perícopes encontradas estão distribuídas em oito epístolas datadas na segunda metade do século I d.C.. Em alguns desses trechos o autor chega a considerar certa igualdade sexual (e.g.: Gálatas 3:28: “não há homem e mulher”, e 1ª Coríntios 11:11: “[não há] mulher sem homem nem homem sem mulher”), mas sem ultrapassar as conveniências sociais a que estava submetido (um judeu, escrevendo em grego a cristãos do império romano). Deste modo, elas deveriam permanecer caladas nas Assembleias (1ª Coríntios 14:34), e eram ordenadas a “aprender em silêncio, em tudo subordinadas” sem poder ensinar ou “ter total poder sobre” o homem (1ª Timóteo 2:11,12). Entretanto, as representações femininas no corpus não se restringem a mera dualidade, e alguns textos conferem a mulher igual dignidade junto aos homens. Febe é chamada de “diaconisa” e “protetora”; Prisca é, em duas ocasiões, mencionada antes de seu esposo, Áquila (o que é incomum em saudações epistolares). À esposa cabe submissão ao marido, mas este deve amá-la tal qual Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (Efésios 5:21). Essas passagens evidenciam uma representação plural da mulher nas Epístolas de Paulo, que incluí, pelo menos, três tipos diferentes: a fêmea (em relação ao macho), a esposa, e a colaboradora devota. Ao invés de oposições binárias (“masculino/feminino”, “dominador/subordinada”), os textos demonstram conflitos e mesmo a imposição das mulheres junto aos homens – afinal, se fossem obsequiosamente “submissas”, não haveria necessidade de ordenar-lhes o silêncio. Isto denota a pluralidade e complexidade das relações de gênero no proto-cristianismo. Sendo a mulher não mera sombra do poderio masculino, mas indivíduo em busca de voz e identidade, o que gerou os conflitos evidentes nos textos.

Maisa Ribeiro Alves da Silva (Graduanda em Letras/Iniciação CientíficaUFPR)

Amor cristão e luta espiritual nas narrativas Peri Logismon de Evágrio Pôntico e Vida de Macrina de São Gregório

A temática do amor e da guerra é uma presença constante nos textos ascéticos e místicos da literatura cristã primitiva. Nesta comunicação, pretendo analisar o aspecto que ela assume no Peri Logismon de Evágrio Pôntico, escritor monástico do séc. IV d.C. e na Vida de Macrina, escrita por São Gregório de Nissa, mostrando como, por um lado o amor aparece como motor da busca espiritual e, por outro, a guerra se apresenta como uma imagem recorrente na representação das formas em que essa busca se configura, bem como nos desafios que apresenta.

Roger Kolossoski (Graduando em Letras/Iniciação CientíficaUFPR)

A Guerra em Homero: análise de tópoi biográficos e sua função na biografia de Homero Herodoteana

O trabalho se atém ao gênero biográfico, mais especificadamente, pela análise da Vida de Homero escrita por Pseudo-Heródoto por volta do século II ou III d.C. O desenvolvimento da pesquisa ocorre através da identificação e análise da recorrência de certos elementos, chamados tópoi biográficos, que tratam de temas que se referem à guerra na narrativa de Homero. O objetivo é não somente a identificação de tais elementos, mas o estudo de sua função no texto, bem como dos traços definidores da concepção de guerra apresentada no texto.

Cassiana Lopes Stephan (Graduanda do curso de Filosofia/UFPR)

A relação entre a guerra e o amor na filosofia estóica: da allotríosis a oikeiôsis

A oikeiôsis ou ‘apropriação’ é entendida no estoicismo como um movimento de expansão da alma, ou seja, um movimento no qual a alma se dispõe relativamente a determinado objeto. Os animais e os homens possuem oikeiôseis cuja possibilidade de extensão varia de acordo com a complexidade da psyché do ente e com a finalidade que lhe é imputada por natureza. De modo geral, o movimento de ‘apropriação’ é oposto ao movimento de ‘alienação’ ou allotríosis, o qual é caracterizado como um puxão da alma em relação a algo. A ‘apropriação’ e a ‘alienação’ desencadeiam respectivamente os impulsos de busca e rejeição. Portanto, da apropriação de si e do todo, segue-se o impulso que prescreve o amor por si e pelo todo. O processo de apropriação, conforme os estóicos, desencadeia o amor do sábio em relação ao cosmos. Nesse sentido, podemos afirmar que o amor (φιλία), tanto no que tange a si quanto no que tange à natureza, resulta do aperfeiçoamento ou transformação de si. Sendo assim, a intenção é a de entender a relação entre a allotríosis e a oikeiôsis para, desse modo, compreender a influência do vínculo entre a guerra e o amor no que se refere aos processos de transformação do indivíduo que busca pela sabedoria. Tal pesquisa será feita a partir das leituras realizadas por Michel Foucault sobre o estoicismo, mais precisamente, a partir das interpretações que são apresentadas no curso A Hermenêutica do Sujeito, de 1982.

6ª-FEIRA (07/12)

Prof.ª Ms. Priscila Maria Mendonça Machado (Doutoranda Unesp/Araraquara)

O punhal machadiano

O estudo de Machado de Assis pelo viés da intertextualidade tem-se consolidado como uma forte tendência atual. O recorte proposto, como corpus desta comunicação foi a análise da presença da Literatura Latina na crônica “O punhal de Martinha”. A crônica publicada em 1894 parodia a prosa clássica, comparando um homicídio praticado na Bahia, pela suspeita Martinha, ao suicídio da virtuosa Lucrécia, ultrajada por Sexto Tarquínio. Se, em Roma, o punhal da violada Lucrécia serve tanto a um propósito particular como a uma causa pública, provocando uma revolução contra a realeza, em Cachoeira, Bahia, o punhal enferrujado de Martinha apenas abrevia a vida do canalha João Limeira, a pedra no sapato da anônima brasileira. Rompendo a barreira do anonimato e da efemeridade imposta aos acontecimentos da vida dos pobres pelo fait divers, Machado aproxima a crônica de fatos miúdos da narrativa histórica dos grandes fatos e grandes homens, na linha dos cronistas da Antiguidade e Idade Média, procurando recuperar a humanidade de personagens reduzidos a objetos de notícia sensacionalista.

Rafael Trindade dos Santos (Mestrando Unesp/Araraquara)

Inserção de metros clássicos em português: o caso de Odes e elegias, de Magalhães de Azeredo

Procurando enriquecer o repertório formal da poesia em português, o poeta e membro fundador da Academia Brasileira de Letras Carlos Magalhães de Azeredo publicou, em 1904, seu livro de poemas Odes e elegias, inspirado nos “metros bárbaros” do italiano Giosuè Carducci. Como Carducci, Magalhães de Azeredo procurou aproximar a métrica vernácula à clássica, criando “hexâmetros portugueses”, “pentâmetros portugueses”, e modos de estrofação que tentavam se aproximar, formalmente, da poesia estrófica latina. O presente trabalho procura analisar sua proposta métrica, bem como suas condições de recepção e a noção, presente nos escritos do autor, de que seu trabalho faz parte de — e desenvolve — uma tradição de aclimatação da métrica clássica em português.

Joana Junqueira Borges (Mestranda Unesp/Araraquara)

Uma antologia de Marcial na obra tradutória de José Feliciano de Castilho

A presente comunicação pretende apresentar resultados decorrentes da nossa dissertação de mestrado ainda em andamento que teve como motivação a contribuição com a pesquisa de traduções para o português de clássicos greco-latinos a partir da obra de José Feliciano de Castilho, português que viveu no Brasil durante mais de trinta anos (1847-1879), atuando como filólogo e tradutor. É notável que Castilho José, como também era conhecido, nos tenha legado a tradução de pelo menos 50 epigramas de Marcial, uma vez que esse poeta latino foi bastante marginalizado, principalmente pela Igreja Católica por conta de seus epigramas “despudorados”. Esse corpus é suficiente para se pensar em uma “antologia marcialina no século XIX”, não só pela quantidade de epigramas extraídos de quase todos os 15 livros conhecidos de Marcial, mas pela variedade de temas e de formas assumidas em sua versão portuguesa. Nesta comunicação apresentaremos um panorama das traduções de Marcial, elencando suas temáticas principais além de traçarmos considerações sobre o fazer tradutório de Castilho José.

Jassyara Conrado Lira da Fonseca (Mestranda Unesp/Araraquara)

The Great Gatsby como um retrato da década de 1920

O romance The Great Gatsby pode ser visto como uma crônica da década de 1920, por registrar diversas marcas desse momento tão característico da história norte-americana.  Francis Scott Fitzgerald, seu autor, é considerado o porta-voz dessa geração. Uma geração que passava por transformações drásticas na economia e na sociedade, causadas por uma guerra recém-terminada. Para aqueles afetados diretamente pela crise esse período foi de extrema privação. Para outros, como Jay Gatsby, o protagonista do romance, esse momento histórico possibilitou um acúmulo vertiginoso de riquezas. A composição das personagens e dos cenários que as separam na história é diretamente influenciada por esses efeitos do pós-guerra. O contexto político-social que serve como pano de fundo para The Great Gatsby interfere nos rumos tomados pelas personagens e, de certa forma, justifica a controversa postura de lassidão e euforia adotada por elas.  Nessa atmosfera, o narrador Nick Carraway tece a narrativa que descreve um verão na vida da personagem título do romance – Jay Gatsby – que personifica a imagem do american dream em suas ingênuas expectativas, em seu incansável desejo de sucesso e em sua obstinada busca pelo amor perdido na juventude.

Lívia Mendes Pereira (Graduanda Unesp/Araraquara)

Metaformose de Leminski e Metamorfoses de Ovídio: síntese dos resultados da pesquisa

Esta comunicação apresenta resultados de uma pesquisa, com o apoio da FAPESP (Proc. 2011/08046-4) que teve como objetivo oferecer uma análise da obra Metaformose de Paulo Leminski que verificasse possíveis releituras das Metamorfoses de Ovídio e de outras fontes latinas, buscando interpretar a maneira como são tratados os mitos presentes na obra, refletindo assim sobre a reinvenção e releitura da Mitologia e da Literatura greco-latinas na literatura contemporânea. O trabalho partiu da fase de coleta e leitura de recentes estudos sobre a obra de Paulo Leminski. Como embasamento teórico nos servimos da própria concepção leminskiana de tradução, segundo a qual traduzir é repassar as ideias e as características de uma obra estrangeira influenciadas por uma nova visão, de uma outra língua diferente. É o que constatamos acontecer em Metaformose, na qual o prosador faz com que os ecos da Antiguidade sejam renovados e renovadores. A partir dessas e outras ideias defendidas por Leminski, fundamentamos e encaminhamos a construção tanto de um índice onomástico construído a partir do mapeamento dos mitos presentes na Metaformose e, em seguida, foram feitas traduções de serviço de alguns excertos ovidianos que se configuram como objeto de reinvenção na obra de Paulo Leminski, com base nas quais propusemos uma leitura dos aproveitamentos que o poeta e prosador paranaense fez do venunisino Ovídio.

Mariana Peixoto Pizano (Graduanda Unesp/Araraquara)

Scripta Latina de Re Metrica: Terenciano Mauro, De Metris, vv. 1700-2092

A pesquisa relatada nesta comunicação está inserida em um projeto mais abrangente que visa à tradução e estudo de textos de escritores antigos sobre a métrica clássica latina, com foco naqueles reunidos no volume VI da obra de Heinrich Keil, intitulado Grammatici Latini (GL). Vol. 6: Scriptores Artis Metricae. O trecho escolhido para o trabalho reúne os versos 1700-2092 do De Metris de Terenciano Mauro (Terentianus de littera, de syllaba, de pedibus, GL 6, p. 325-413), passagem que descreve as particularidades prosódicas de sílabas e pés em domínio métrico.  Sobre o modo de composição daquele manual, não é ocioso destacar que tem a particularidade de ter sido composto em hexâmetros – verso caro aos poetas latinos e considerado o verso épico por excelência. O texto resultante da presente pesquisa estará acessível para colaborar com estudos e reflexões acerca das doutrinas métricas dos antigos gramáticos latinos, sua evolução, suas definições, conceitos, métodos e objetos privilegiados.
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